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Por que sem patrocinador não há como o piloto fazer carreira no automobilismo?

Por que sem patrocinador não há como o piloto fazer carreira no automobilismo?

O piloto que deseja chegar a F1, como explicamos em outros textos desta série, tem um caminho traçado antes já de dar os primeiros passos, e mostrar talento, no kart. Os carros de F1, F2, F3, Fórmula Renault, F4, por exemplo, são do tipo monopostos, com pneus expostos. Em todas essas categorias de formação, as equipes precisam que seus pilotos levem verba de patrocinadores, ou em alguns casos recursos pessoais, para disputar os campeonatos.

Nas competições-escola não há prêmios em dinheiro em que mesmo os times campeões recebem recursos suficientes para disputar a temporada seguinte sem exigir patrocinadores dos pilotos. Assim, não há outra saída para um piloto seguir carreira. Todo fim de ano a grande maioria dos pilotos vive esse dilema: convencer empresas a confiar na sua capacidade de fazer sucesso para, no futuro, também capitalizar com as conquistas.

O terceiro capítulo da série tratou do quanto os pilotos precisam dispor para disputar uma temporada de kart no seu nível máximo, por um time vencedor nos campeonatos europeu e mundial, depois F4, Fórmula Renault 2.0, a seguir F3 e F2, todas na Europa. Para os pilotos que visam a fazer carreira na América do Norte, na Fórmula Indy, o mais aconselhável é competir nas categorias-escolas mantidas por lá. Elas são distintas, principalmente quanto aos circuitos. Não existem pistas ovais nos calendários das categorias europeias. Isso exige uma formação distinta dos pilotos.

A Youse tem uma parceria com o piloto Sérgio Sette Câmara, mineiro, 20 anos, é o seu principal patrocinador na F2. Até agora foram disputadas 11 das 12 etapas do campeonato, 22 corridas, pois a cada etapa há sempre uma corrida no sábado e outra no domingo. Com a equipe inglesa Carlin, Sérgio ocupa o sexto lugar na classificação, com 164 pontos. O líder é o inglês George Russell, da francesa ART, com 248, seguido pelo tailandês Alexander Albon, da francesa DAMS, com 211 pontos.

Russell e Albon disputam o título na 12ª e última etapa do campeonato, dias 24 e 25 de novembro no Circuito Yas Marina, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, no mesmo fim de semana em que a F1 realiza sua 21ª e última prova do ano.

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O tema é patrocínio no automobilismo. Fixemo-nos no caso da equipe de Sérgio na F2, a Carlin, com sede em Farnham, ao Sul de Londres. O fundador e sócio principal, Trevor Carlin, mantém equipes em bem mais categorias, não apenas na F2. São sete no total: Europeu de F3, Britânico de F4, EuroFormula Open, com carros de F3, também na Europa, Indy Lights e, pela primeira vez, este ano, em um campeonato do nível mais elevado, a F Indy.

Dessas categorias todas, apenas a F Indy é capaz de prover prêmios que, dependendo da colocação do time, pode prescindir de seus pilotos levarem patrocinadores. Uma escuderia vencedora em uma competição top com um grande público nos autódromos e na TV atrai patrocinadores. As que contam com eles negociam com os pilotos em outras bases, não seguem o modelo padrão, ou seja, o piloto tem necessariamente de levar patrocinadores.

As equipes que têm recursos próprios são também, em geral, as mais eficientes. Podem se dar ao luxo, dependendo do seu interesse, em vez de exigir patrocinador do piloto, lhe pagar um salário. Mas elas são a minoria, até mesmo na F1, a principal competição de esporte a motor no mundo.

A equipe de Trevor Carlin na F2 disputa uma grande temporada. Este ano o regulamento mudou radicalmente em relação ao de 2017. Carro e motor são novos. A Carlin respondeu com competência ao desafio. Sérgio, por exemplo, já esteve oito vezes no pódio. Seu companheiro, o inglês Lando Norris, 18 anos, enfrentou menos dificuldades de Sérgio e, com seu inegável talento também, é o terceiro na classificação, com 197 pontos.

Norris é empresariado por Zak Brown, diretor executivo do Grupo McLaren, que já este ano o contratou para ser o companheiro do espanhol Carlos Sainz Júnior na equipe McLaren de F1 em 2019. Todo piloto, dos 20 no grid da F2, competem com esse propósito, chegar na F1.

A Carlin lidera a F2 este ano entre as equipes com 361 pontos, seguida da ART, do líder entre os pilotos, Russell, com 310, e da DAMS, do segundo colocado, Albon, que tem ainda uma pequena chance de ser campeão em Abu Dhabi, com 302.

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Trevor Carlin precisa para disputar as 12 etapas, 24 corridas da F2, mais os treinos da pré-temporada, com dois carros, cerca de 3,5 milhão de euros (R$ 17 milhões). Todos as despesas estão incluídos nesse valor, como aquisição do carro novo, custo operacional, pagamento dos seus profissionais, transporte para os GPs etc. Por isso a Carlin negociou com Sérgio e Norris valores que lhe pudessem cobrir essas despesas e, claro, ter algum lucro.

O automobilismo é essencialmente negócio para Trevor Carlin, além de paixão. Ele precisa do patrocinador dos seus pilotos para ter orçamento a fim de que o time funcione. Essa é a lei. O mesmo vale para cinco das demais seis equipes que a Carlin mantém nas categorias mencionadas. A exceção é a F Indy. Elas não pagam prêmios que as permitam prescindir do investimento dos pilotos e também não tem patrocínios próprios, por a F2, bem como as demais cinco, serem categorias de formação. Os pilotos passam um, dois, no máximo três anos nelas.

A F Indy não faz parte desse modelo de negócio, ao menos não totalmente. A Carlin é nova na competição. O inglês Grahame Chilton se tornou sócio de Trevor na Carlin em 2009. E o filho de Grahame, Max Chilton, é um dos seus pilotos na F Indy, que obviamente não precisa levar patrocinadores. O outro piloto, sim, o norte-americano Charlie Kimball.

Na F Indy o investimento necessário para um piloto disputar uma temporada em uma escuderia como a Carlin, ainda em fase de descoberta dos desafios da competição, está na faixa dos 6 milhões de dólares, ou R$ 22 milhões. A última etapa do campeonato, 17ª do calendário, foi disputada em Sonoma, na Califórnia, dia 16 de setembro. O campeão é o neozelandês Scott Dixon, da Chip Ganassi, com Dallara-Honda, 678 pontos.

Os pilotos da Carlin ficaram em 17º, Kimball, com 287 pontos, e 19ª Chilton, 223.

Diferentemente da F2, onde o orçamento é relativamente bem parecido entre as equipes e a liderança da Carlin é o resultado, basicamente, da eficiência do trabalho de Sérgio, Norris e seus profissionais, na F Indy há diferenças importantes entre os orçamentos das equipes.

A Chip Ganassi do campeão Dixon provavelmente deve ter investido o dobro do disponibilizado pela Carlin na sua temporada de estreia. E na F Indy dispor de mais dinheiro representa, na maioria dos casos, maior performance, por os times poderem investir em pesquisa para melhorar o chassi, existe margem de desenvolvimento. As escuderias da F Indy podem escolher entre usar motor Honda, como foi o caso do campeão Dixon, ou Chevrolet, ao passo que na F2 todos competem com o mesmo motor Mecachrome.

Aqui de novo aparece uma diferença importante entre uma categoria definida como top, como a F1 e F Indy, e outra apenas escola, a exemplo da F2. Para evidenciar as qualidades dos pilotos, as competições-escola costumam ter chassi, motor e pneus monomarca, são os mesmos para todos, e as equipes não podem mudar nenhum componente, devem tirar o máximo do chassi através apenas de regulagens.

Na F1, principalmente, e na F Indy o estudos de novos componentes desenvolvidos pelos times é que determinará sua capacidade de obter sucesso, desde que os pilotos correspondam.

Repare como enquanto na F2 se a Carlin conseguir o dobro do orçamento da ART o ganho será bem pequeno, por a margem de melhora se limitar a somente otimizar o que existe, sendo que o equipamento é o mesmo para todos, na F1 e na F Indy é exatamente a competência do grupo técnico no desenvolvimento de novos componentes e a disponibilidade financeira que determinam os vitoriosos.

Essa é a razão principal de a diferença entre os melhores e piores tempos no grid da F2 serem bem reduzidas. O conceito é esse, diminuir a possibilidade de o equipamento fazer muita diferença na performance, a fim de valorizar os dotes de velocidade e gestão das corridas dos pilotos, pois precisarão desses predicados se passarem para a F1.

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Na F1, a diferença entre a pole position de Lewis Hamilton, da Mercedes, na última etapa, em Suzuka, e a da do último no grid, Marcus Ericsson, da Sauber, foi de 3 segundos e 453 milésimos. Parte importante dessa diferença vem do fato de a Mercedes investir 300 milhões de euros (R$ 1,5 bilhão) por ano na F1, e a Sauber, 100 milhões de euros (R$ 500 milhões), um terço somente.

A Federação Internacional de Automobilismo (FIA) tem essa preocupação de evitar de nas categorias-escolas grandes diferenças de orçamento se traduzirem em grandes diferenças de performance, mascarando as reais qualidades dos pilotos. A diferença de orçamento entre a melhor escuderia da F2 e a de menores resultados é bem pequena.

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